Em nosso estado existe a ideia do controle político através da existência de três poderes distintos: o legislativo, o judiciário e o executivo. A proposta tripartite de poder impede a ação de um tirano sobre a população, como também, em tese, nos protege de abusos do poder, pois os três mutuamente fiscalizam-se. Em meados do século XIX também acreditava-se que a impressa poderia exercer um marco regulatório sobre os poderes a partir de uma perspectiva de verdade. Foi então que surgiu o equivalente a expressão “quarto poder”. Com o passar do tempo a expressão tomou um caminho, onde este quarto poder exerce algo semelhante a uma tirania, pois a perspectiva de verdade sucumbiu diante dos conglomerados de controle econômico produzindo fatos e noticiando determinados interesses.
Escrevo a introdução para pensar a questão do futebol nos canais abertos através das operadoras pagas via satélite. Por questões contratuais a Bandeirantes somente pode transmitir o mesmo jogo que a Globo faz. Logo, nos estados que Bandeirantes não possui direitos nada está passando. Pra todos estes lugares tela preta, conforme fora devidamente noticiado aqui no Esporte e Mídia nas notícias Operadoras bloqueiam sinal da Band durante transmissão do futebol (http://www.esporteemidia.com/2015/02/operadoras-bloqueiam-sinal-da-band.html) e Regras contratuais impedem transmissão de jogos nas operadoras, diz Band (http://www.esporteemidia.com/2015/02/regras-contratuais-impedem-transmissao.html).
Bandeirantes tem um contrato assinado com Globo e ele deve ser respeitado. Esta é uma questão. Agora a questão que me incomoda é faz pensar é o que leva a uma emissora pagar por um produto com exposição tão restrita. A submissão de um canal às condições restritas. A baixa audiência de Bandeirantes nestas circunstâncias fazem pensar no poder de submissão que a detentora do espetáculo submete e que a outra parte aceita. Estas é uma das consequências da exclusividade em transmissões esportivas. A criação de reféns de interesses alheios. Reféns que vem de outra data, basta lembrar as restrições do sinal em alta definição em parabólicas que a Bandeirantes tem.
Um exemplo importante que poder-se-ia tomar como molde é o modelo americano de transmissão esportiva que não admite exclusividade. A negociação é feita pela liga com distribuição equivalente dos ganhos a fim de tornar a liga mais forte e não entidades como clubes (no caso franquias). A participação de vários grupos nas transmissões eliminam a zona de conforto de apenas uma linha editorial permitindo ganho ao telespectador. Para não ser tão teórico vejamos o caso NBA. A partir das próximas semanas serão quatro canais a transmitir o melhor basquete do mundo: ESPN; Space; Sport+ e agora Sportv. O poder de escolha diante do controle remoto limita o poder de controle sobre o espectador.
Enquanto tivermos um modelo televisivo centrado não haverá desenvolvimento sustentável do esporte. Não estou falando mal da Rede Globo que o controla. Estou a falar do controle único seja que for o controlador. Nestes moldes quem perde somos nós. Os milhares de amantes do futebol que tinham a Bandeirantes como uma fonte estão privados do Paulistinha e reféns de uma policatilha platinada. A ideia me parece clara, impulsionar o produto pay-per-view.
*Texto do colunista Albio Machioretto do Esporte e Mídia.
Fonte:Esporte e Mídia
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