Neste domingo (9), The Walking Dead voltou nos Estados Unidos com a segunda metade da quarta temporada. No Brasil, a Fox exibe o retorno na terça, a partir das 22h30. A série tem a maior audiência na TV paga norte-americana, e o episódio de estreia da atual temporada deu ao canal AMC um público de 16,1 milhões de telespectadores. Como comparação, o episódio final de Breaking Bad, no mesmo AMC, teve 10,28 milhões de telespectadores.
Por aqui, The Walking Dead também é sucesso. Foi a série americana mais assistida pelos brasileiros na TV por assinatura em 2013, com média de 217.740 mil telespectadores por episódio.
Contudo, a série, que é baseada na famosa HQ de mesmo nome, apresenta falhas na produção e elaboração da trama. Ritmo lento, personagens principais sem apelo e retomada do mesmo tema em vários episódios marcam The Walking Dead. Para Newton Guimarães Cannito, 40 anos, autor-colaborador da novela Joia Rara, da Globo, essas são características propositais:
“The Walking Dead é um faroeste moderno. Moderno não só no sentido de ser contemporâneo, também no sentido de ser uma narrativa moderna, ambígua, com personagens hesitantes, mais lenta e com certa subjetivação”.
Zumbis humanos
A série apresenta a história de sobreviventes de um apocalipse zumbi. Eles buscam um local seguro longe dos "caminhantes", como são chamados os zumbis, que com uma mordida infeccionam os seres humanos.
A subjetivação citada por Cannito está no pano de fundo da série. O que são esses zumbis? Qual a relação dos humanos com os “caminhantes”? Entender isso é chave para compreender o porquê de repetições constantes de temas como “salvar a humanidade do mundo apocalíptico cheio de zumbis”.
Victor Ugo Pastore, 21 anos, assistente de arte e fã da série, vê os zumbis “apenas como um pano de fundo para mostrar como humanos podem ser em um ambiente selvagem e hostil”.
Além disso, o possível lado humano dos zumbis cria uma ambiguidade. Uma cena que exemplifica bem asse aspecto aconteceu no quinto episódio da segunda temporada (Cherokee Rose).
Um zumbi é encontrado apodrecendo em um poço na fazenda Herschel. Dale Horvath (Jeffrey DeMunn) tenta salvá-lo para que a água não fique contaminada. Essa cena não está na HQ e sua construção gera dúvidas, pois com a retirada do zumbi, a água ficaria limpa? E se o salvamento fosse apenas por isso, porque não matar o zumbi?
Cannito observa que “a questão principal de The Walking Dead vai muito além de ‘salvar a humanidade do apocalipse’ total. A questão mais complexa é: os zumbis ainda tem algum lado humano?”.
Personagens confusos, sem ‘origem’
As decisões dos personagens em The Walking Dead são altamente questionáveis dentro do aspecto lógico. Quem mais apresenta dúvidas básicas é o protagonista principal, Rick Grimes (Andrew Lincoln). Ele, que deveria se posicionar mais firmemente como o líder dos sobreviventes, se questiona sobre o que é certo fazer, fugindo da responsabilidade. Em outros momentos, Grimes entende que o grupo precisa dele e passa, então, a comandar.
Outro problema da série é não apresentar claramente os personagens, sejam os principais ou coadjuvantes. “Na HQ temos o passado de várias personagens explicado, mostrando os primeiros dias do apocalipse e as dificuldades que eles passaram. Acho que ficaria incrível na série”, aponta Pastore. “Muitas personagens merecem mais espaço ou pelo menos uma breve explicação da vida deles pré-apocalipse”.
Uma estratégia comercial pode estar por trás da omissão de histórias de alguns personagens, um interesse “de Robert Kirkman (criador da HQ) e da editora (Image Comics) de lançar esses conteúdos separados”, diz o roteirista do SBT Eric Felin, 22 anos. “Assim como saiu toda a história de O Governador (David Morrisey) em livros, e uma série especial de quadrinhos com a história da Michonne (Danai Gurira)”.
Importante ressaltar a ausência de novos personagens. Confirmada para a quinta temporada, como The Walking Dead vai ter história, para mais 16 episódios, com a morte de tantos humanos? De onde viriam as novas pessoas?
Cena da segunda metade da quarta temporada de The Walking Dead |
Viciante
Cannito confessa. “Lembro que eu ouvia falar de The Walking Dead e assistia apenas trechos. Não me interessava. Um dia parei para assistir inteiro. Viciei por completo”.
The Walking Dead tem uma legião fiel de telespectadores. O esforço antipirataria da Fox, que exibe a atual temporada no Brasil com apenas dois dias de atraso, é para justamente atrair os fãs da série, que horas após um episódio ir ao ar nos EUA já o buscam (e encontram) na internet.
Essas falhas de The Walking Dead não impedem a série de ser certeza de boa audiência. Mas a enfraquece nas premiações mais importantes da TV norte-americana, que dão prestígio. Até agora, só ganhou estatuetas na categoria melhor maquiagem em série de TV no Emmy de 2011 e 2012. Nunca recebeu indicações para as categorias principais. Já no Globo de Ouro, The Walking Dead, em quatro anos, só foi nomeada uma única vez: em 2010, como melhor série dramática.
Para Pastore, admirador da série e HQ, o fracasso na estrutura da história na TV não impede de acompanhar episódio por episódio o que acontece neste conflito humano versus zumbis.
Canitto dá uma dica de como apreciar The Walking Dead: “The Walking Dead dá a impressão que é só uma questão de matar zumbis. E que tem momentos parados. Mas se você realmente entra no tom e no universo da série, percebe que a questão é mais filosófica. Como todo grande faroeste, The Walking Dead se situa no gênero da tragédia filosófica”.
Via:Noticias Da tv
Postar um comentário
Deixe seu comentário